O
Lago é o romance de Ana Teresa Pereira galardoado com o
Grande Prémio de Romance e Novela 2011, pela APE.
A Associação Portuguesa de Escritores
atribuiu, no dia 24 de outubro, o Grande Prémio de Romance e Novela 2011, à
obra de Ana Teresa Pereira, O Lago. Ao lado da escritora madeirense estiveram, na
qualidade de finalistas, Maria Teresa Horta, Mário Cláudio, Nuno Júdice e
Teolinda Gersão.
Ana Teresa Pereira é autora de uma vasta obra,
ocupando um lugar de referência na literatura portuguesa. O seu primeiro
romance Matar a Imagem, publicado em
1989, foi vencedor do Prémio Caminho de Literatura Policial. Em 2005 a
escritora é novamente distinguida pelo prémio literário do Pen Clube Português
com o livro Se nos Encontrarmos de Novo
e em 2007, com A Neve, recebe o
Prémio Máxima de Literatura.
A escrita e o estilo de Ana Teresa Pereira:
“A envolver tudo em crescendo sub-reptício, o
romantismo inglês e o universo pré-Rafaelita naquilo que recuperam de medieval.
Mas os ambientes sinistros e atmosferas inquietantes evidenciam marcas e
vestígios do gótico, às vezes transportados para território nacional e tempos
modernos, contaminados pelos filmes mais recentes. Reveladas em epígrafe há as
inspirações em Jorge Luis Borges, Henry James, Truman Capote, Iris Murdock,
Hitchcock - este último ironicamente reinventado em “O Ponto de Vista das
Gaivotas”, um dos contos de Fairy Tales (Black Son Editores, 1996),
reeditado junto com Ghost Stories em A Coisa que Eu Sou (Relógio
d'Água, 1997).”
http://www.arlindo-correia.org/240301.html
Um extrato de O Lago
“Tom aprendera com José Quintero que
não se deve roubar pão – o motivo é de ordem religiosa; e que dirigir uma peça
ou um filme é procurar algo de tímido e de interior, escondido nos bosques do
nosso ser.
Era o começo do Outono e as folhas
desprendiam-se das árvores; à noite fazia frio. No teatro, fazia sempre frio.
Tom tinha visto tantas raparigas a lerem o papel, que começava a sentir-se
aborrecido. Uma das actrizes profissionais do primeiro dia…
A rapariga foi a última da tarde. Ele viu-a atravessar a sala e subir para o
palco sem grande interesse. Era bonita, o cabelo louro comprido, o corpo magro,
vestia um casaco preto de cabedal que tirou antes de sentar-se. Por baixo
vestia uma T-shirt branca, sem mangas, e uma saia preta que lhe ficava alguns
centímetros acima do joelho. Botas pretas. Parecia cansada.
Tom conhecia aquele cansaço. Não era
o cansaço de quem trabalhara muito naquele dia, de quem trabalhara muito na
véspera, mas a simples dor de estar vivo. Devia ter vinte e nove ou trinta
anos. Ele conseguia ver a sua história nos olhos cor de avelã. O trabalho num
bar para pagar os estudos, um ou dois bons papéis, inúmeras audições e depois
nada. Pequenos papéis em peças que saíam de cartaz ao fim de umas semanas e
nada.”